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domingo, 19 de junho de 2011

Clarice está em mim e um dia também sairá de mim!

Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu queria amar o que eu amaria - e não o que é. É também porque eu me ofendo a toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário (…). Eu que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu.

(Clarice Lispector - do Livro: Felicidade Clandestina)

domingo, 12 de junho de 2011

O Futuro setornou--- de Octavio Paz

"O futuro se tornou a região do horror, e o presente se converteu num deserto. As sociedades liberais giram, giram, mas não avançam, só se repetem. Se mudam, mas não se transfiguram. O hedonismo do Ocidente é a outra face do seu desespero; O lugar vazio deixado pelo cristianismo nas almas modernas não foi ocupado pela filosofia, mas pelas superstições grosseiras. Nosso erotismo é uma técnica, não uma arte ou uma paixão."



Sobre o autor: Octavio Paz

Octávio Paz Lozano foi um poeta mexicano, nascido na Cidade do México, em 1914, e faleceu em 1998. Foi notabilizado por seu trabalho prático e teórico no campo da poesia moderna ou de vanguarda. Recebeu o Nobel de Literatura de 1990 , é considerado um dos maiores escritores do século XX e um dos grandes poetas hispânicos de todos os tempos

Fonte: http://www.tvcultura.com.br/provocacoes/poemas?search=Octavio+Paz&by=author

Autoconhecimento, as doenças ou a saúde?


O autoconhecimento é um caminho que nos aproxima do existencialismo, quanto mais percebemos quem somos, mais nos sentimentos responsáveis por TUDO que vivenciamos e assim buscamos o nosso aperfeiçoamento.
É impressionante como na vida podemos ser o nosso melhor amigo, tal como o nosso maior inimigo, tudo depende de como lidamos com o que nos acontece, afinal o problema não é o problema, mas a forma com que reagimos a ele.
“Esquece todas as ofensas que te façam, ainda mais, esforça-te por pensar o melhor possível do teu maior inimigo. Tua alma é um templo que não deve ser profanado pelo ódio.” (Paracelsos)
Porque esperamos que a nossa “cura” que nossa “libertação”venha do outro?
O próprio Jesus Cristo, dizia: “Levanta-te e anda.” Era como se dissesse a cada um de nós que a força e a vontade está em nós mesmos e que ele era “apenas”a imagem refletida em si mesmo de que toda forma de superação é possível, desde que entendamos o nosso papel aqui e que escolhamos o que queremos.
Pensando nessa forma existencial de ver a vida, passamos a questionar as doenças e fatalidades e então percebemos que muitas doenças partem de nossa forma de viver e que na maioria das vezes também ignoramos as mesmas como reações as nossas atitudes, um exemplo disso é a solução dos orientais para prisão de ventre: “arrume o guarda roupa, jogue (ou destine á outros) tudo que não lhe serve e seu corpo reagirá da mesma maneira.”
Complexo? Claro!
Outro foco da questão das doenças e fatalidades é que todos ao nascermos, sabemos que morreremos e afinal se temos uma alma imortal, qual é a minha programação e a minha missão para essa vida? O que realmente é melhor para minha forma de SER?
Nesse sentido começamos a refletir as formas de tratamento e medicina que escolhemos para “curar-nos”, e já nascemos apresentados medicina tradicional, com suas fórmulas alopáticas que tem a ênfase de tratar de nossas doenças e não necessariamente promover a nossa saúde.
A medicina tradicional lida especificamente com o nosso corpo material, físico, e cabe aqui uma ressalva de que essa fragmentação Cartesiana e Newtoniana serviu lá atrás como uma estratégia para que pudessem numa época que tudo era desvendado e sanado unicamente pela religião, buscar outras vias através de estudos e que para isso separam a alma (que ficava ligada a religião) do corpo físico (que passará a ser estudado pela ciência).
E nos dias atuais como lidar com as doenças, Sai Baba, pontuou sobre 2012:


“A sociedade está mais iluminada. Isto é o que está acontecendo. E isto faz com que muitas pessoas que lêem estas afirmações as considerem loucura.
Percebeu que hoje em dia as mentiras e ilusões são percebidas cada vez mais rapidamente? Bom, também está mais rápido alcançar o entendimento de Deus e compreender a forma como a vida se organiza.
Esta nova vibração do planeta tem tornado as pessoas nervosas, depressivas e doentes. Isto porque, para poder receber mais luz, as pessoas precisam mudar física e mentalmente. Devem organizar seus quartos de despejo, porque sua consciência cada dia receberá mais luz. E por mais que desejem evitar, precisarão arregaçar as mangas e começar a limpeza, ou terão que viver no meio da sujeira.”

A conexão está feita, a amplitude dos problemas só podem ser interpretados se analisados holisticamente:
“Um sistema de medicina que ignore a existência do ser espiritual está incompleto porque os tecidos que constituem o nosso corpo físico, são sustentados não apenas por oxigênio, glicose e nutrientes químicos, mas também por energias vibracionais superiores que conferem a vida expressão criativa do corpo físico.” (Fisioterapeutas: Dra Ana Maria Barbosa Pagani e Dr. Lauro Pereira Pagani)
Como tratar, por exemplo, o órgão estômago através da matéria unicamente se este não digere apenas alimentos, mas emoções, sensações e sentimentos?
“Estes singulares sistemas de energia são afetados em seu equilíbrio pelas emoções pela mente e também por fatores ambientais e nutricionais. A conexão invisível entre o corpo físico e as forças sutis do espírito detém a chave da compreensão dos relacionamentos internos entre matéria e energia” (Fisioterapeutas: Dra Ana Maria Barbosa Pagani e Dr. Lauro Pereira Pagani)
Einstein na física quântica, Paracelsos nas homeopatias e Dra Edward Bach no estudo dos Florais, demonstraram a percepção e a ousadia de estudos que buscam a visão holística do SER humano.
Bach por exemplo, tinha uma carreira promissora como médico e quando passou a estudar os florais (acreditava na evolução de algumas flores, a possibilidade de auxílio das mesmas ao ser humano) foi chamado de charlatão e com risco de perder seu diploma de médico e ainda ser preso, ao questionar o que aconteceria se não fosse médico e estudasse os florais recebeu a resposta de que de que nada aconteceria, e assim fez, por sua pura vontade a entrega de seu diploma de medicina e estudou até o fim de seus dias na terra, os florais, inclusive desencarnando ao fim do mesmo (estudo).
Por quê?
Porque percebia e acreditava no caminho existencial de “cura-te a ti mesmo” da cura advinda do “caminho do coração”.
Ainda nos dias de hoje vemos pessoas loucas, lutando para aumento de hospitais e ninguém luta, faz campanha para a causa de “Conhece-te”, para o autoconhecimento e aperfeiçoamento pessoal e espiritual, buscando realmente o equilíbrio e a cura.
Na luta para emancipação da Índia Gandhi foi questionado de como a Índia poderia ser independente se não tinham nem hospitais e ele respondeu:
“Primeiramente isso é problema meu e hospitais não são sinônimos de saúde, mas de doenças.”
Coisas para pensar....

sábado, 11 de junho de 2011

As estações, elementos e a Formação de nossa personalidade

Água
Quando chega o Inverno do nosso começo e/ou fim, o medo não trabalhado vira obsessão. O medo trabalhado se transforma em sabedoria.

Madeira
Em nossa Primavera da infância, a raiva não trabalhada converte-se em ira. A raiva trabalhada se transforma em amor.

Fogo
Já no nosso verão de adolescência , alegria não trabalha corre risco de tornar-se depressão. A alegria trabalhada tranforma-se em benevolência.

Terra
Ainda no nosso verão de nossa maturidade e da canalização de nossa energia feminina, a preocupação não trabalhada vira obsessão. A preocupação trabalhada transforma-se em Fé!

Simples assim... Dificil assim...
Personalidades e suas formas para os Orientais!
Observações baseados no livro: O psiquismo da medicina Oriental/ Ilka D. Penna

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Minha revolução


Minha revolução é sublime no exterior, mas intensa no interior.
Minha revolução vem da arte!
Minha revolução se manifesta na arte!
A arte me revoluciona, me transforma, me emociona!
Tenho a oportunidade de viver apenas o que acredito.
Se desacredito o que vivo, tenho a sorte de ser ignorante.
Luto contra a incoerência e me distancio dos incoerentes.
A incoerência fere os órgãos da minha alma.
O que é ser incoerente?
Saber no acredita e fazer diferente!
Minha revolução é constante e de dentro para fora.
A inteireza é minha bandeira.
Estar inteira e no presente de cada fato é meu objetivo de vida.
Viver intensamente, tudo que a vida me destinar, buscando sempre me equilibrar.

terça-feira, 7 de junho de 2011

LOU ANDREAS -SALOMÉ: A PAIXÃO VIVA

Fonte: (http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/paixaolouandreassalome.html)

(Do Livro: Os Sentidos da Paixão. Ed. Cia de Letras, 1987, págs. 359-373)

Luzilá Gonçalves Ferreira



Lou Salomé: uma prática de paixão; alguém que viveu a paixão com paixão, e talvez por isso mesmo provocou, até uma idade avançada, o nascimento da paixão nos seres que encontrou em seu caminho: Rilke, Nietzsche, Paul Rée, Tausk e, ao que parece, até mesmo Wagner sucumbiram ao seu encanto e à alegria de viver que transpirava em cada um de seus gestos - e o próprio Freud não parece ter sido indiferente à graça da discípula que ele qualificou de "raio de sol'.

A paixão de Lou pela vida transparecia em seu próprio físico. Freud lhe escreveu um dia: "você tem um olhar como se fosse Natal". E a escritora Helena Klinkberg (citado por Peters): "O sol se levantava quando Lou entrava numa sala". Era um ser luminoso, transparente e lúcido, daquela lucidez talvez de que fala João Cabral de Melo Neto a respeito de Monsieur Teste: "uma lucidez que tudo via, como se à luz ou de dia". Um ser humano para quem a felicidade é condição natural e destino do homem: "dentro da felicidade eu estou em casa". E ainda: "A única perfeição é a alegria".

Essa paixão pela vida, ela a transmitia aos outros, fazendo com que as pessoas ao seu contato desenvolvessem e dessem o melhor delas próprias. O que fez alguém escrever: "Quando Lou se interessa apaixonadamente por um homem, nove meses depois este homem dá à luz um livro. Um interesse pelo outro que o leva a crescer e produzir - mesmo quando esse crescimento e essa produção implicam o sofrimento.

Pois Lou Andreas-Salomé conseguiu realizar, em seus 76 anos de vida, o que nós todos gostaríamos e deveríamos fazer sempre - e não o fazemos por descaso, indolência, medo: tornar a vida o exercício apaixonada de uma busca. Sua exploração em todos os possíveis. Isto que requer a fruição intensa e incessante de coisas e pessoas que nos cercam, de modo que o mundo exterior em nós penetre e a nós se incorpore. Pois a vida, como o dizia Rainer Maria Rilke a propósito de Rodin, "está nas pequenas coisas como nas grandes: no que é apenas visível e no que é imenso".

Antes mesmo do seu encontro com Rilke, Louise von Salomé já intuía essa verdade: desde muito cedo encontramos nela um grande apetite de aprender e de amar - e o objeto de sua atenção podia ser a psicanálise, a curtição de uma paisagem, de uma flor, de um esquilo na floresta ou de um corpo amado.

(.....) Lou escreveu vários ensaios sobre o Erotismo. O primeiro deles data de sua ligação com Rilke. Intitulado reflexões sobre o problema do amor, traz as evidentes marcas da embriaguez física e espiritual que sua autora estava vivendo. Aqui ela assinala, em páginas de um admirável lirismo, a capacidade que tem a paixão amorosa de nos abrir o caminho ao sentimento da totalidade da vida e sua faculdade de nos colocar em estado criativo. O ato amoroso "nos enche a alma inteira (...) de ilusões e de idealizações espirituais, forçando-nos o mesmo tempo a nos chocar brutalmente, sem possibilidade de se esquivar, ao dispensador de uma tal desordem; ao corpo". E Lou escreve:

"Pois, sobretudo, resulta no indivíduo uma espécie de interação ébria e exuberante das mais altas energias criadoras do seu corpo e a exaltação mais alta da alma. Enquanto nossa consciência se interessa vagamente, habitualmente, por nossa vida psíquica, como por um mundo que conhecemos mal e que controlamos ainda pior, que ao que parece forma um com ela, mas com o qual normalmente ela se entende mal - eis que se produz subitamente entre eles uma tal comunhão de enervação que todos os seus desejos, todas as suas aspirações se inflamam ao mesmo tempo."

Por essa exaltação da alma através dos sentidos, por essa impressão que o ato amoroso nos dá de haver ido muito longe, e tocado o indizível, é que ele pode influenciar e favorecer a criação, a "pátria do dizível", como escreveu Rilke. E Lou: "O Mundo da criação e do amor significa: volta ao país natal, entrada no paraíso; o a impossibilidade de criar, ou do amor morto, é, ao contrário, um exílio onde os deuses nos abandonam".

A atividade criadora se apaixona por tudo aquilo que é vida em nós, que é indício do que em nós lateja de mais secreto, e que atinge as raízes do ser. O espírito descobre forças que não possuía ou das quais não se apercebia. Pode voltar àquele estado de inocência primeira que possuiu na infância, redescobre a "novidade" das coisas, com o frescor de uma sensação primitiva: o olhar da criança sobre o mundo que descobre maravilhada; o olhar de Adão diante de Eva recém-saída de si.

Confrontado com os seus longes, o amado vê a si mesmo, e ao mundo exterior, como algo recém-criado. Por isso, às vezes a gente sai do amor como quem saiu de uma catedral, redescobrindo o mundo aqui fora com os olhos renovados. O ato amoroso, vivido em plenitude, obriga os amantes a concentrar em si mesmos tudo aquilo de que são capazes, passível de germinar com a força das plantas na primavera.

"Nesta igualdade original do corpo e do espírito e nesta consciência ingênua de um e de outro - uma criança que acredita em tudo que vê, para quem tudo se renovou, que, cheio de uma fé e de uma confiança sem limites, gostaria de gritar sua alegria ao esplendor inverossímil do mundo, e não saberia saudar de melhor modo a razão senão fazendo cabriolas diante dela... como se balbuciasse em sonho, ele tem algo a dizer sobre estes esplendores ocultos que lhe fizera, ai de nós, esquecer tantas coisas úteis e necessárias."

O ato amoroso transforma o parceiro num "conto estranho e maravilhoso". A Paixão amorosa é uma porta, diferente de todas as outras portas, "em sua arquitetura ornada de elementos ricos de sentido, em virtude de um simbolismo singular". É o caminho por excelência que nos leva a nós mesmos. Por ela "nós não somos um mundo de realidade, somos apenas o espaço e o metteur en scène de um mundo onírico, todo-poderoso, irresistível".

Assim, o amor durará enquanto os amantes forem capazes de oferecer ao outro essa entrega, que dá acesso de modo vital à capacidade de se concentrar neles mesmos, de ser um mundo para si por causa do outro.

A esta altura, a gente poderia se perguntar - não seria esta uma visão demasiado idealizada do amor? Mas Lou não se deixa embalar incondicionalmente pelo êxtase da paixão: esta grande amorosa foi também, segundo a expressão de Freud, uma "compreendedora".

Neste mesmo ensaio, ela nos lembra que no êxtase amoroso, por mais que desejemos nossa fusão com o amado, sempre somos, em última análise, remetidos a nós mesmos. A reconciliação que se fará aqui será sobretudo entre o sujeito e ele próprio, através do outro, mais do que entre o sujeito e o objeto amado.

Num ensaio sobre o erotismo, datado de 1910, e num ensaio posterior, quando Lou já se engajara definitivamente à psicanálise, intitulado Anal e Sexual, ela nos lembra que na união física "a gente não possui um ao outro por meio do corpo, mas apesar do corpo, que, como todo mundo sabe, não se identifica jamais (...) completamente com o todo da pessoa, mas aparece sempre como uma parte dela e resiste à dominação mais viva".

(....) A fusão inteira do nosso ser com o outro, por mais querido que seja, não seria desejável. É preciso que sejamos cada vez mais nós mesmos, para poder ser um mundo para o outro. A relação erótica, remetendo-nos a nós próprios, é uma ocasião de constante renovação: cada vez ela inaugura em nós um ser novo; como um ato de linguagem, cada vez que eu falo a um Tu, é um Eu diferente que fala a um novo Tu: quando digo Eu, já não sou aquela que falava há pouco. A relação erótica é, assim, nela mesma, criação. E o amor um elemento de produção: somos a cada instante outros, encontramos no outro cada vez um elemento novo, diferente, desconhecido, misterioso até - o que dá à relação erótica sua riqueza:

"só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal. Assim, nada há de mais inepto em amor do que se adaptar um ao outro, de se polir um contra o outro, e todo esse sistema interminável de concessões mútuas... e, quanto mais os seres chegam ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto de se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, de se transformar um em parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro."

É preciso que a gente seja sempre, um para o outro, duas deliciosas surpresas fecundas. Aquele mundo da fábula de La Fontaine "Os dois pombos", que aconselha aos amantes: "Amantes, felizes amantes, vocês querem viajar? Que seja pelas margens próximas/Sejam um para o outro um mundo sempre belo, sempre diverso, sempre novo./ Sejam um todo um para o outro, contem por nada o resto".

E Lou analisa esta necessidade de renovação e da existência do mistério na relação amorosa:

"Pois, nos seio mesmo da paixão, nunca se deve tratar de "conhecer perfeitamente o outro": por mais que progridam neste conhecimento, a paixão restabelece constantemente entre os dois este contato fecundo que não pode se comparar a nenhuma relação de simpatia e os coloca de novo em sua relação original: a violência do espanto que cada um deles produz sobre o outro e que põe limites a toda tentativa de apreender objetivamente este parceiro. É terrível de dizer, mas , no fundo, o amante não está querendo saber "quem é" em realidade seu parceiro. Estouvado em seu egoísmo, ele se contenta de saber que o outro lhe faz um bem incompreensível... os amantes permanecem um para o outro, em última análise, um mistério."

Assim, o amor não seria um encontro, mas uma busca. Não quer dizer que chegamos, mas que estamos próximos.

Rilke perguntava-se na Primeira elegia de Duíno: "Não é tempo daqueles que amam libertar-se do objeto amado e superá-los, frementes? Assim a flecha ultrapassa a corda, para ser no vôo mais do que ela mesma". E nas cartas a um jovem poeta, em maio de 1904:

"Assim, para quem ama, o amor, por muito tempo e pela vida afora, é solidão, isolamento, cada vez mais intenso e profundo. O amor, antes de tudo, não é o que se chama entregar-se, confundir-se, unir-se a outra pessoa. (...) O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo por si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser: é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para longe."

Se o amor é uma busca, se o estudo é uma busca, a arte uma busca, a vida inteira é também busca. E o amor e a paixão são a mola dessa busca.

É preciso buscar com amor, com paixão. Amar a vida, amá-la mesmo e sobretudo quando ela chega ao fim, e o espírito e o corpo vêem limitados seu campo de ação. Nos Cadernos íntimos dos últimos anos, Lou Andreas-Salomé dá um balanço de sua vida. Em fevereiro de 1934, isto é, três anos antes de morrer, ela escreve:

"Distingue-se entre os humanos aqueles que se sentem divididos em um passado e um futuro e aqueles que vivem o presente com cada vez mais densidade, sempre mais plenitude. Os orientais acham natural insistir menos sobre a morte do que se passa do que sobre a perfeição do que se acaba, como aprofundamento da realidade. Nós, ao contrário, começamos a ver aquilo que nos chega, apenas sob o aspecto sempre mais sinistro da morte - como tudo o que se observa de um olhar exterior, logo mortífero."

E um pouco mais adiante:

"Sempre não tive a idéia fixa de que a velhice me traria muito? Em meus jovens anos escrevi em algum lugar: primeiro nós vivemos nossa juventude, em seguida nossa juventude vive em nós. Não sei bem, ainda hoje, o que eu queria dizer com isso outrora. Mas eu tinha realmente medo de não atingir a idade de viver esta experiência; eu o sabia profundamente, uma longa vida, com todas as suas dores, vale ser vivida,. Claro, o valor da vida pode nos ficar escondido pelos desgastes sofridos pela nossa carne, nosso espírito (...) do mesmo modo que a juventude mais empreendedora pode se ver entravada em sua felicidade e em seu sucesso, por um fatal concurso de circunstâncias; mas, por além das perdas, a velhice adquire muito mais que a famosa aptidão à serenidade e à lucidez: ela permite que se chegue a uma plenitude mais acabada."

A velhice pode ser, assim, uma volta àquela espécie de paz inicial e retorno do indivíduo a um estado de não-divisão, de fusão primitiva do eu para consigo mesmo, o corpo parece se acalmar relativizando-se; ...

Num ensaio de 1901, escrito aos 40 anos e intitulado A velhice e a eternidade, Lou afirmava: "O velho está liberto de todos os seus limites pessoais e escrúpulos mesquinhos. Retirado lentamente da vizinhança imediata dos outros seres vivos, ele se vê, progressivamente, reintroduzido no grande encadeamento universal".

É preciso amar a vida em todas as suas fases e amar até mesmo a morte. Aqui Eros e Thanatos se dão as mãos - são forças complementares e não contrárias. A morte é a redenção da vida individual, escreve Lou num artigo sobre o misticismo russo. Nossa morte não nos separa dos seres que amamos; ela nos entrega de modo mais completo a eles:

No dia em que eu estiver no meu leito de morte

Faísca que se apagou -,

Acaricia ainda uma vez meus cabelos

Com tua mão bem-amada

Antes que devolvam à terra

O que deve voltar à terra,

Pousa sobre minha boca que amaste

Ainda um beijo.

Mas não esqueças: no esquife estrangeiro

Eu só repouso em aparência

Porque em ti minha vida se refugiou

E agora sou toda tua [Hino à morte]

A morte desfaz, assim, a distância entre os amantes, que agora vivem um no outro, sem que o individualismo os separe. A morte não é uma partida, umas uma volta: um retorno do indivíduo àquela união primitiva com as cosias. Por isso não a devemos temer.

A grande biografia de Lou Salomé ainda não foi escrita. Mas, pelo que dela nos resta, fica uma lição final de amor pela vida, de paixão pela vida, de totalização da vida. Por isso Lou desejou ser cremada e que suas cinzas fossem jogadas no jardim de sua casa, em Gottingen: para que seu corpo pudesse se incorporar à terra e ser transformado em planta e flor.

domingo, 5 de junho de 2011

Agridoce... Espelho Agridoce....


Espelho reflete á todos e nunca a si mesmo... Por isso quebra!
Sabe tudo dos outros e nada de si... Precisa da proteção da madeira, que não reflete, mas que se auto-reflete, Sente-se!

sábado, 4 de junho de 2011

Agridoce...


Agridoce adjectivo: ácido e doce ao mesmo tempo, o mesmo que doce-amargo, acre-doce e agro-doce.Fig. Diz-se do azedume que se reveste da aparência de doçura: palavras agridoces.

Bonecas, Contos, Planos.... Agridoce... Esperanças, Expecativas, Sonhos... Agridoce!